Viúva de vereador assassinado é consolada durante velório do marido
Câmara de Batalha; atentado a tiros matou vereadores na porta da Casa legislativa
Neguinho morreu minutos depois. Os criminosos também acertaram outras duas pessoas que estavam no carro. Elas sobreviveram e não correm mais risco de morte.
O clima pesou. Logo ao saber do atentado que vitimou o pai, José Marcio de Melo, conhecido como "Baixinho", pegou uma arma e foi até a casa de José Emílio Dantas supostamente vingar a morte. Emílio estava armado e reagiu. Houve troca de tiros, e Emílio foi atingido no ombro. Como havia gente ferida do "lado rival" nos hospitais de Batalha e de Arapiraca (a 50 km de Batalha), ele foi socorrido de helicóptero e levado até Maceió, onde foi atendido no Hospital Geral do Estado, e passa bem. "Baixinho" foi indiciado na sexta (10) e teve a prisão preventiva decretada, mas ainda é procurado pela polícia.
Uma visita feita pelas altoridades locais a casa da troca de tiros na sexta-feira e encontrou o local aberto, já que o portão arrombado foi retirado para conserto. As marcas de tiros, de vidros quebrados e de manchas de sangue no chão denunciavam o cenário de batalha que ocorrera ali horas antes.
Por conta do clima de tensão, integrantes da família Dantas foram retirados de Batalha pela polícia. Segundo apururado, eles devem se ausentar da cidade por pelo menos cinco dias.
O corpo de Neguinho Boiadeiro foi trasladado sob escolta policial até Craíbas, cidade próxima a Batalha e onde a família tem uma fazenda.
Centenas de pessoas participaram do velório e do enterro, ocorrido na tarde de sexta. Muitos políticos alagoanos também foram ao sepultamento ou visitaram a família.
A viúva, Mércia Boiadeiro, precisou ser amparada por familiares próximos. Muitos carros e militares estavam espalhados por todo o trajeto do cortejo, desde a fazenda até o cemitério.
Quase duas décadas de mortes
Marcas de tiro na janela da casa de José Emílio
Para entender a rixa familiar, é preciso voltar a pelo menos 1999. As primeiras mortes de que se têm notícia foram a do ex-prefeito de Batalha José Miguel Dantas e a de sua mulher, Matilde --eles foram assassinados em uma emboscada em março de 1999. José Miguel era irmão do então presidente da Assembleia, Luis Dantas.
O crime foi imputado a Laelson Rodrigues de Melo, conhecido como "Laércio Boiadeiro". Ele foi condenado a 35 anos de prisão em júri popular em 2012 pelo duplo homicídio. Laelson é irmão de Neguinho Boiadeiro e nega até hoje ter cometido o crime.
A partir dali, as famílias acirraram uma disputa por poder na cidade. Em 2006, outro crime aconteceu. Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e o sargento Edvaldo Joaquim de Matos foram mortos em Batalha. Eles eram, respectivamente, cunhado e segurança de Paulo Dantas --que na época era prefeito da cidade. O autor dos disparos foi José Emanoel Boiadeiro.
Emanoel confessou os disparos e alegou legítima defesa. Ele chegou a ser condenado e estava em liberdade condicional quando morreu durante uma operação policial em outubro de 2016, na cidade de Belo Monte, vizinha a Batalha.
A versão oficial é que ele foi alvejado em uma troca de tiros com a polícia --que também resultou em um policial ferido na mão. Emanoel seria segurança de um candidato a prefeito da cidade de Belém e estaria armado. Um outro homem que estava com ele também foi morto. A família Boiadeiro contesta a história e alega que foi a família Dantas que ordenou a morte de Emanoel por vingança do crime ocorrido uma década antes.
Segundo o comandante do 7º Batalhão da PM, tenente-coronel Genival Bezerra, desde a morte de Emanoel a polícia havia ficado atenta para possíveis ânimos acirrados pelas famílias em Batalha, mas clima aparentava total tranquilidade. "Desde aquele momento ficamos monitorando [a situação], mas os retornos que tivemos eram de que estava tudo calmo, até demais. Aí infelizmente ocorre isso, num lugar de grande movimentação, ao meio-dia", afirmou.
Preto Boiadeiro, filho do vereador morto em Batalha, durante o enterro
"Não é suspeita, tenho certeza. Eles queriam atingir a família Boiadeiro, e meu pai era o mais dócil, o que andava só. Mataram para atingir a gente", afirmou durante o velório do pai.
"O que ocorreu: um primo meu matou um pessoal deles em 2006, e eles mataram meu primo. Nós nunca imaginávamos que iam pegar meu pai, que nunca fez mal a ninguém. Foi a pessoa mais errada do mundo que mataram", disse.
O delegado Cícero Lima, que coordena a comissão de delegados nomeada para investigação dos crimes, afirmou que a disputa familiar é apenas uma das linhas de investigação e que somente ao fim da apuração poderá apontar autores materiais e intelectuais do crime. "Estamos trabalhando duro, ouvindo depoimentos, mas para crime de assassinato é difícil pessoas testemunharem. Mas por ora nenhuma linha pode ser descartada",
Enterro do vereador reuniu centenas de pessoas em fazenda de Craíbas
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